05-MAI-2022
Todos os anos por esta altura as nossas aldeias são palco de uma tradição que está arreigada ás nossas boas gentes. Refiro-me às várias matanças de porco que são realizadas nas nossas terras. Mas, dirão os mais cépticos a tradição já não é o que era, pois não, mas ainda é bastante forte por estas paragens e se nos dias de hoje já não existe a necessidade de preservar o alimento que iria ser o "mimo" para todo o ano, existe sim um orgulho de ter na sua cozinha um conjunto de manjares que farão as delicias a todos aqueles que tiverem a dita de os comer. Mas vamos um bocado atrás, ao início do ano, quando se pensa num porco de cria que lá para o fim do ano irá dar uma "ceba" - o nome pelo qual é conhecido o animal - que vai ser o centro desse dia diferente que ainda se vive nas nossas terras. Depois em fins de Novembro, escolhe-se o dia, mas é preciso ter em conta a lua, pois nem todas são boas para as matanças, convida-se um "entendido" na arte de matar o bicho e mais uns mancebos possantes para suster a" bizarma". Tudo se inicia ao principio da manhã e depois de comer uns figos secos e umas nozes, acompanhadas por uns golos de aguardente - vamos embora que se faz tarde - e o entendido munido de uma faca lá faz o seu trabalho - não se pense que é fácil pois esta operação só é levada a efeito por pessoas que ao longo dos muitos anos aprenderam esta arte e ai daquele que não dê a facada no lugar certo e o reco não morra o mais rápido possível e que não deite o máximo de sangue. Depois é tempo de o "chamuscar" e raspar-lhe toda a pele. De seguida e já lavado, come-se o sangue, previamente cozinhado e temperado com alho e azeite em cima do animal. Mas o trabalho ainda não está completo e é preciso tirar-lhe as tripas que irão servir para as várias qualidades de fumeiro - as linguiças, os salpicões, chouriços de cabaça, as alheiras, etc.. Dias depois desmancha-se o bicho e as várias carnes são separadas e utilizadas nas mencionadas qualidades de fumeiro. O fumeiro feito é posto ao fumo da lareira e passado dias é altura de provar estas delicias que ainda se encontram nestas terras e nas várias feiras de fumeiro da região transmontana. Termino mencionando o "nosso" grande Miguel Torga no seu livro Portugal: Quem não comeu estes manjares ensacados, prove …. . E há-de encontrar neles o sabor das invernadas passada ao borralho, enquanto a neve cai ... Nuno de S. Vicente
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